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A mostrar mensagens de junho, 2022

ELOGIO DA ÁRVORE - 4

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 As árvores comunicam A percepção do senso comum é de que as árvores são algo de hirto, estático, sempre passível dum corte ou abate inconsiderado, insensível, mudo. Mas desenganem-se, as árvores falam, comunicam à sua maneira. Só muito recentemente nos apercebemos disso. É, aliás, um capítulo que muitos cientistas transformaram no seu terreno de pesquisa. * Francis Hallé no seu livrinho “La vie des arbres” (Ed. Bayard) narra a impressionante história das acácias e das gazelas koudou. O caso passa-se na África do Sul e foi estudado por Van Hooven da Universidade de Pretória e é ele que, parece, estar na origem à corrida deste novo campo de descoberta.  As gazelas comem as folhas das acácias, mas parcimoniosamente, não mais de 20 segundos, e passam à acácia seguinte, mas sempre contra o vento.  Que aconteceu? A árvore de maneira fulgurante segrega uma substância tóxica que torna as folhas bastante venenosas e ao mesmo tempo lança na atmosfera uma lufada de etileno que é pr...

Quando é que foi a última vez...

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...que entrou num restaurante - num rodízio ou num buffet, por exemplo - e comeu, comeu, comeu, comeu tanto quanto quis, comeu até não poder mais! … e isso lhe trouxe uma sensação genuinamente agradável? Quando é que foi a última vez que comprar um telemóvel ou par de sapatos novos lhe trouxe satisfação duradoura? Ou gratidão pelo facto de ter dinheiro para gastar onde bem entender? Quando é que foi a última vez que passar uma, duas, cinco horas na internet o(a) fez sentir-se conectado(a) com o mundo e as pessoas à sua volta de um modo real, concreto, tangível? Quanto tempo passou, depois de fazer cada uma destas coisas, até voltar a sentir-se insatisfeito? Até voltar a pensar no próximo gadget, noitada, doce no frigorífico, post de instagram, série da Netflix? E depois no outro a seguir? Quantos dos nossos filhos perderam o interesse nos seus presentes - desejados e implorados durante meses - duas semanas depois do Natal? Até que ponto estes actos de consumo não se assemelham um pouco...

ELOGIO DA ÁRVORE – 3

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 A árvore arquitecto do Planeta Recentemente a revista “Science et Avenir” (Maio 2022) publicou um dossiê intitulado “As árvores guardiãs da Terra”. Na verdade as árvores são mais do que isso. São também construtoras da superfície terrestre, moldando-a, refazendo-a. Foi, aliás, o que aconteceu há cerca de 60 milhões de anos. Há cerca de 140 milhões de anos aparecem as primeiras angiospérmicas (plantas com flores), mas somente após a catástrofe que vitimou os dinossauros e o seu mundo elas encontram o terreno livre para se desenvolverem. Há 66 milhões de anos começa uma imensa revolução: a expansão irresistível das plantas floríferas, até representar 80% das plantas existentes (90% das florestas tropicais actuais, com mais de metade da biodiversidade conhecida). O nosso planeta adquire cor, uma paleta com todos os tons, o verde e o cinzento deixam de ser as cores dominantes. Há 60 a 50 milhões de anos surgem plantas muito próximas das actuais e há cerca de 30 milhões as gramíneas co...

ELOGIO DA ÁRVORE - 2

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 As árvores e o aquecimento global Não será tarefa fácil travar as alterações climáticas em curso, caso haja vontade dos dirigentes políticos e do conjunto das comunidades humanas para o fazer, como é evidente. O que, francamente, não é muito perceptível, actualmente. No entanto, temos algumas armas ainda disponíveis: um decrescimento do consumo, em particular o energético, começando por utilizar massivamente não só as energias renováveis e com menor impacto ecológico, mas uma fonte de energia imensa e sempre desprezada, a “energia desperdiçada” a rodos, em especial nas denominadas sociedades desenvolvidas.  Outro aliado com grandes capacidades é a floresta que teremos de proteger a todo o custo, impedindo a destruição da existente e que já retém uma grande quantidade de carbono (um carvalho de 40 metros reterá de 5.000 a 7.500 Kg de CO2, diz-nos Catherine Lenne da Univ. de Clermont-Ferrand - ”Science et Avenir” de Maio 2022) e reconstituindo muitas mais. As árvores não armaze...

Como transformar o seu jardim num dissipador de carbono - BBC Future

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Tradução deste artigo . Desde manchas de natureza selvagem a plantas em decomposição, transformar o seu jardim num dissipador de carbono não se trata apenas de adicionar muitas árvores. Durante a Segunda Guerra Mundial, o ministério da agricultura do Reino Unido encorajou os jardineiros a "cavar para a vitória" e a cultivar os seus próprios vegetais para ajudar a alimentar o país. Os lotes surgiram em jardins privados e parques públicos - mesmo os relvados ao pé da Torre de Londres foram transformados em manchas de vegetais. Quase 100 anos mais tarde, o slogan "Cave para a Vitória" foi reorientado pela Royal Horticultural Society (RHS) do Reino Unido. A associação de jardinagem visava mobilizar o maior exército de jardinagem desde a Segunda Guerra Mundial para combater a maior ameaça do século XXI: as alterações climáticas. As ferramentas à sua disposição? Plantar árvores, utilizar água da chuva em vez de aspersores, e fazer adubo. Se cada um dos 30 milhões de jardi...

ELOGIO DA ÁRVORE – 1

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 Referindo-se ao sobreiro o (talvez) nosso mais eminente agrónomo, J. Vieira Natividade, escreve, com fundo de amargura, as seguintes palavras: “Nenhuma outra árvore dá mais exigindo tão pouco. Espoliada, talada, saqueada, obstina-se em viver, e não sabemos que mais admirar: se a resistência do sobreiro à ofensiva destruidora, se a cegueira ou a mísera impotência do homem que persiste em não aproveitar a fundo a prodigiosa vitalidade desta árvore, em não tirar todo o partido de tão notável capacidade de adaptação.”  Poderíamos dizer o mesmo de praticamente todas as árvores, até de muitas que os “negreiros” de árvores obrigaram a “emigrar”. Na realidade, esses seres magníficos (propomo-nos demonstrá-lo ao longo destas crónicas) sempre nos forneceram tudo e nada pedem em troca. Abrigam-nos, enquanto material de construção, alimentam-nos, dando-nos os seus frutos, fizeram, assim como as outras plantas, os solos aráveis e férteis de que usufruímos, fazem parte do nosso conforto qu...