ELOGIO DA ÁRVORE - 4
As árvores comunicam
A percepção do senso comum é de que as árvores são algo de hirto, estático, sempre passível dum corte ou abate inconsiderado, insensível, mudo. Mas desenganem-se, as árvores falam, comunicam à sua maneira. Só muito recentemente nos apercebemos disso. É, aliás, um capítulo que muitos cientistas transformaram no seu terreno de pesquisa.
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Francis Hallé no seu livrinho “La vie des arbres” (Ed. Bayard) narra a impressionante história das acácias e das gazelas koudou. O caso passa-se na África do Sul e foi estudado por Van Hooven da Universidade de Pretória e é ele que, parece, estar na origem à corrida deste novo campo de descoberta.
As gazelas comem as folhas das acácias, mas parcimoniosamente, não mais de 20 segundos, e passam à acácia seguinte, mas sempre contra o vento.
Que aconteceu? A árvore de maneira fulgurante segrega uma substância tóxica que torna as folhas bastante venenosas e ao mesmo tempo lança na atmosfera uma lufada de etileno que é pressentido pelas suas congéneres em jeito de mensagem. “Há gazela na zona. Atenção!” Por essa razão as gazelas, que já compreenderam, se deslocam contra o vento, jamais no sentido em que ele sopra.
Outro facto curioso é que a toxicidade das folhas é passageira, cerca de um dia, mais tarde as folhas readquirem a sua composição química normal, quando poderiam tornar-se definitivamente tóxicas.
Acrescente-se às virtudes das árvores outra característica: o altruísmo: alimentam as koudous sem exageros, bem entendido, contribuindo para a estabilidade do ecossistema e são solidárias com os membros da sua espécie. Esta solidariedade está longe de ser única. Sabe-se que os pinheiros adultos disponibilizam para os juvenis substâncias nutritivas através do sistema radicular.
É também através das raízes que o tomateiro avisa os seus iguais do aparecimento de certas doenças originando a segregação dum antídoto. Há mais exemplos e a procissão ainda vai na praça.
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