BARREIRAS À CONECTIVIDADE FLUVIAL - EFEITOS SOBRE A SUSTENTABILIDADE DA VIDA
Um estudo do Centro Comum de Pesquisa da Comissão Europeia prevê que cerca de metade do número de praias desapareça até ao final do século (132 000 km), caso as emissões de gases com efeito de estufa mantenham o ritmo actual. Em primeiro lugar serão afectadas as zonas costeiras baixas com uma densidade populacional de mais de 500 hab/km² (31% das praias mundiais).
Este tipo de costa recobre 1/3 dos litorais do globo e tem um papel crucial no que diz respeito à protecção da interface terra/mar. Além de serem o melhor meio de protecção contra tempestades, o areal ajuda à dissipação da energia das ondas e as dunas são uma barreira natural entre o mar e o interior das terras, constituem também um ecossistema biodiverso insubstituível.
A crescente ocupação dos territórios litorais e das bacias hidrográficas com construções, estão a destabilizar a orla costeira, cuja configuração depende de ciclos bem precisos que determinam uma evolução das praias muito sensível às perturbações que afectam os fluxos hidrológicos que ditam a dinâmica dos fluxos de nutrientes e de sedimentos.
As barreiras fluviais como os diques e as barragens… representam a parte mais importante destas perturbações. Os sedimentos que ficam retidos em reservatórios artificiais e a redução dos caudais a jusante aceleram o assoreamento, o avanço da cunha salina e a erosão costeira. Fragilizando e destruindo habitats únicos e pondo em situação de risco crescente a segurança das infraestruturas e das populações que vivem na orla costeira.
A solução encontrada tem passado por compensar a falta de areia, com processos artificiais que recorrem a maquinaria pesada para dragagem das zonas assoreadas e reposição de sedimentos nos locais que afectam as populações instaladas.
Com as alterações climáticas e a consequente subida do nível médio do mar e ocorrência de fenómenos climáticos extremos, este artifício não é sustentável. Nas tempestades mais fortes, a areia é levada mais longe para o largo e não pode voltar. Além disso as reservas de areia não são renováveis à escala humana: estes sedimentos são herdados da última glaciação. Só um novo grande episódio de frio à escala geológica poderá constituir um novo aporte massivo de sedimentos.
De tudo isto resulta que as praias, a Biodiversidade (espécie humana incluída), e os aglomerados urbanos costeiros e ribeirinhos, estão cada vez mais desarmados face aos impactes da incrementação de novas barreiras à conectividade e aos efeitos das alterações climáticas com subida do nível do mar e fenómenos climáticos extremos, cada vez mais frequentes e intensos… que em conjunto agravarão o crescendo de fragilização e destruição de ecossistemas, acrescentando por essa via, mais e maiores obstáculos à Sustentabilidade da Vida.
É preciso definir uma estratégia durável que permita às praias fazer face aos efeitos das alterações climáticas. Essa estratégia deverá redireccionar para o interior certas actividades humanas e deverá promover planos estratégicos no sentido de melhorar drasticamente a conectividade fluvial e não acrescentar mais barreiras às já existentes (2333 só na bacia hidrográfica do Tejo).
Ana Silva
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